Esta manhã fomos chamados de urgência para acudir à uma vaca que não conseguia parir. Tinha rebentado as águas há algumas horas e o vitelo não nascia. Agarramos os medicamnetos e os instrumentos que nos ajudam nestas circunstâncias e partimos pela estrada chuvosa, mas um camião não nos deixava acelerar o passo...
Ao abandonarmos a estrada principal entramos nesta deliciosa via secundária que atravessa uma vale quase que encantado e rapidamente chegamos ao estábulo...
A vaca já tinha arrebentado as água como tinhamos sido informados pelo telefone e os donos estavam apreensivos. Nunca tinham tido problemas com partos de vacas e por isso não sabiam o que viria daí. Pela fotografia podemos observar uma parte da placenta, mas ainda não tinha saído nenhum bebé. pedimos um balde com água morna e misturamos betadine espuma e lavamos a "natureza" ( como dizem no campo) da vaca. Com luvas obstétricas lubrificadas, fizemos a exploração do canal do nascimento e descobrimos a cabeça de um vitelo vivo.
Manobramo-lo de maneira a sair bem e de seguida foi um passo e já estava cá fora e após limpar-mos as vias respiratórias do líquido amniótico, a mãe o lambeu estimulando ainda mais as funções cardio-respiratórias do recém nascido (esta prática não é a corrente, normalmente a mãe não tem contacto com o vitelo, sendo este estimulado com a ajuda de panos friccionados no dorso)
A mãe lambe o seu menino
Há que verificar sempre se não há mais nenhum vitelo e se tudo está bem. Por isso voltamos a desinfectar os braços e colocar as luvas obstétricas, agora não havendo necessidade de lubrificação devido à abundância do líquido amniótico no canal. Normalmente as vacas têm só um vitelo por parto, após a gestação de nove meses, mas neste caso com um parto ligeiramente precoce e com uma barriga acima do volume normal era uma possibilidade. E era mesmo!
O segundo vitelo era fêmea, sendo o primeiro macho. A fêmea em princípio será estéril, sendo esta situação conhecida por Freemartinismo, causado pela circulação sanguínea comum entre os dois fetos quando estão no útero, sendo o desenvolvimento do aparelho genital feminino impedido de maturar completamente pelas hormonas sintetizadas pelo macho e que entram na circulação comum.
Após as fotos o filme da mãe a lamber os seus dois filhotes. O macho é o que tem as pequenas malhas brancas :)
Ps. Os donos não podiam manifestar mais a sua felicidade. Por tudo ter corrido bem e por ela ter parido dois vitelos :)
6 comentários:
É uma delícia ser veterinário de província e poder tratar de todos os animais. Os vets de "clínica geral" estão a desaparecer a bem da especialização. Isso porque o volume de conhecimentos nas diferentes áreas clínicas são cada vez maiores, o que exige uma dedicação específica para melhor fazer, mas o certo é que algum romantismo que envolve a profissão vai morrendo, a bem do progresso, parece. Felizmente formei-me num tempo em que se via o James Herriot na TV na série inglesa "Veterinários de Província" e estagiei-me em contacto com dois brilhantes vets de província, a Drª Rita Campos de Carvalho e o Dr. George Stilwell (que é agora prof na Faculdade em Lisboa), que além da clínica ensinaram-me coisas tão importantes como deleitar-me com o voo das garças boeiras ao fim do dia em direcção ao castelo de Montemor-o-Velho ou aperceber-me quando é que uma vaca está triste ou não :)
Deve ser fascinante fazer algo que se goste. Hoje em dia..já não é bem assim, infelizmente.
Adorei o tópico!!!!! :D
Obrigado :D
Adorei seu blog e ja adicionei a favoritos!
Incrivel pegar um parto gemelar e ainda fotografar para socializar com o mundo :)
Deve ser uma delicia trabalhar na provincia em Portugal, muito show de bola.
Parabens:D
Obrigado pelo teu elogio. Felizmente conseguimos fazer o que adoramos. Beijinhos para o país irmão :)
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