Wild Medicine

Recebemos um alerta da SPVS pelo fim da tarde: Uma Tartaruga de Couro (Dermochelys coriacea) de mais de 500Kg (é a maior tartaruga marinha, podendo atingir 900 Kg), foi apanhada por um arrastão e o corpo (ou seja, está morta) encontra-se na docapesca de Aveiro e vamos fazer a necrópsia. Já tinhamos colaborado na recuperação de uma tartaruga da mesma espécia que foi libertada com sucesso, e porque não são todos os dias que encontramos uma destas, tinha a curiosidade de ver como era a anatomia interna sem ser através dos livros ou de fotografias. Mas de qualquer modo não havia pressas e fui beber um cafezinho primeiro. Nova chamada: está viva! Afinal a tartaruga está viva! dizia o Prof. Vingada. Nova correria, carro na autoestrada e já estamos em Aveiro, mas entretanto já sairam com ela da docapesca e encontramo-la já a ser transportada em cima de um camião. Estava muito debilitada e o único movimento eram os dos olhos ao serem tocados. Tinha metido muita água nos pulmões enquanto esteve presa na rede do arrastão; estava em apneia (parava de respirar) com dispneias (respiração acelerada, descontrolada) intercaladas, que é típico destes animais quando tem dificuldades respiratórias. Transportada até às instalações da SPVS, ond está também nosso baby Nazaré, iniciamos a tentativa de recuperar a tartaruga, que saiu gorada devido ao estado muito debilitado e da inúmeras lesões que ela apresentava como se pode ver. Era uma fêmea e estava cheia de ovas. :(

A Lei de Murphy aqui funcionou, disse-nos a Marisa, bióloga da SPVS, ao telefone; temos mais uma tartaruga que foi apanhada numa rede. Neste caso foi feliz. Era uma juvenil Caretta caretta ou tartaruga careta ou boba que se encontrava em estado razoável e agora só falta fazer umas análises para decidirmos se ela já pode voltar ao mar donde sempre viveu e vai voltar. :)

Houve também um ganso patola com uma ferida perfurante, que felizmente não atingiu os sacos aéreos como se temia. Inspeccionada a ferida prescrevemos antibióticos e desinfecção regular da lesão com betadine bastante diluido em soro fisiológico. Pelas notícias recebidas a ferida já se fechou na sua abertura para o exterior. O patola come bem e anda bem. Só falta agora um dias desses irmos ao mar aberto e soltar a tartaruga e o patola, como já experienciamos anteriormente. Foi uma sensação de satisfação plena. Rara nestes dias de hoje. :)